Santa Josefa
- Gelson Celistre

- há 5 dias
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Hoje 20 de novembro é o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra e uma cliente nos solicitou o resgate de uma mártir negra venerada na cidade de Cachoeira do Sul, no estado do Rio Grande do Sul. A devoção a Santa Josefa, figura central da religiosidade popular de Cachoeira do Sul, nasce do encontro entre memória, sofrimento e fé. Pouco se sabe de sua vida documentada, mas muito se preserva pelas vozes do povo.

As versões sobre sua morte — oito, de acordo com a tradição local — compõem um mosaico de histórias que revelam tanto a crueldade do período escravocrata quanto a força espiritual atribuída a essa mulher negra que, mesmo sem canonização oficial, tornou-se símbolo de resistência e milagre.
A primeira e talvez mais difundida lenda afirma que Josefa teria sido castigada no pelourinho por uma falta considerada mínima. As chicotadas profundas levaram-na à morte, e seu corpo, enterrado como indigente, passou a manifestar sinais extraordinários: relatos antigos mencionam sangue que escorria de sua sepultura, levando moradores a acreditarem que sua presença espiritual se tornara protetora e ativa.
Outra versão atribui sua morte à inveja da patroa. Josefa era jovem e bonita, e o olhar interessado do patrão despertava ciúmes violentos. Aproveitando-se da ausência do marido, a esposa teria ordenado torturas que resultaram na morte da escravizada. Com o passar dos anos, peregrinos contavam que um braço erguido surgia de seu túmulo, símbolo da injustiça que ela teria sofrido e da força espiritual que, para muitos, nunca se dobrou.
Uma terceira lenda descreve um episódio especialmente cruel: Josefa teria sido empurrada para dentro de um caldeirão de gordura quente usado para fabricar sabão, após se recusar a ceder às investidas de seu senhor. Ainda viva e gravemente queimada, foi enterrada às pressas — um martírio que, mais tarde, reforçaria sua imagem de santidade.
Outro relato diz que ela foi jogada viva em um formigueiro após um pequeno acidente envolvendo a criança que cuidava. Embora as formigas pudessem devorá-la rapidamente, contam que seu corpo teria permanecido intacto, protegido por uma espécie de intervenção sobrenatural, interpretada pelos devotos como sinal de pureza e inocência.
Há também a história de seu enforcamento. Nessa versão, Josefa teria sido pendurada por uma corda e, para intensificar o sofrimento, teve os pés queimados logo após a morte. Os motivos desse castigo variam nas diferentes narrativas, mas o desfecho cruel reforça o sentimento comunitário de que ela foi vítima de grande injustiça.
Outra lenda fala sobre sua sepultura inquieta. Após o fim da escravidão, os antigos senhores teriam tentado remover seu corpo para outro cemitério, temendo problemas legais. Porém, ao abrir seu túmulo, perceberam que o corpo não se decomposera. Mais curioso ainda: mesmo após a transferência, surgiram histórias de que o corpo “retornava” misteriosamente ao local de origem, onde hoje se concentra a devoção popular.
Uma sétima versão diz que Josefa teria sido acusada, falsamente, de roubar uma moeda de ouro. Apesar de negar, foi chicoteada até a morte. A moeda, no entanto, teria sido encontrada depois, provando sua inocência. Entre moradores, esse episódio consolida a imagem de Josefa como mártir da injustiça e protetora de inocentes.
A oitava lenda narra que a patroa queimava Josefa com cera quente como forma frequente de tortura. Em um momento de desespero, a escravizada teria fugido com partes do corpo ainda em chamas, mas acabou morrendo no local onde, anos mais tarde, seria erguida a Capela Nosso Senhor do Bom Fim. A presença espiritual de Josefa naquele ponto levou devotos a transformá-lo em um espaço de fé, promessa e agradecimento.
Hoje, o túmulo de Santa Josefa é local de visitação constante. Pessoas deixam velas, flores e bilhetes de gratidão por graças alcançadas. Sua história — fragmentada, múltipla e marcada pela dor — tornou-se símbolo da resistência de mulheres negras escravizadas e da capacidade humana de transformar sofrimento em devoção e memória coletiva.
Nossa cliente fez um pedido a Santa Josefa e teve sua graça alcançada, ela havia prometido para a Santa que se a graça fosse alcançada ela solicitaria seu resgate e assim o fez. As lendas sobre a escrava na realidade não são apenas de uma negra escravizada, mas de várias e cada uma delas sofreu algum desses suplícios relatados nas lendas e não havia apenas uma Santa Josefa, mas 17 (dezessete) espíritos de negras escravizadas que sofreram as mesmas crueldades e que acabaram sendo puxadas para o local de devoção, uma pequena capela no centro da cidade.
Esses 17 espíritos de negras escravizados que morreram tragicamente tentavam ajudar quem rezava para elas, pois se sentem confortada com a energia das orações. Duas delas se chamavam mesmo Josefa, uma delas foi morta num caldeirão de óleo ou gordura e a outra açoitada no tronco até a morte. Nós oferecemos a todas a possibilidade de ir para um lugar melhor no astral e quase todas quiseram ir de imediato, com exceção das duas que se chamavam mesmo de Josefa, essas ficaram em dúvida, mas resolveram ir com a possiblidade de retornar caso queiram.
Como hoje é também dia do Zumbi, um negro que foi líder do Quilombo dos Palmares, o maior quilombo que existiu com o tamanho aproximada de Portugal e que chegou a ter uma população de cerca de 30.000 pessoas. Ele e mais uns mil espíritos ainda estão no astral e procuram ajudar os negros em sua luta por igualdade. Zumbi nos mostrou cerca de 5.000 fazendas que ainda mantinham negros escravizados no Brasil todo e efetuamos um grande resgate de cerca de 100.000 negros escravizados. Zumbi vai continuar livre no astral lutando por seus irmãos.



O que quase ninguém percebe nesse resgate de Santa Josefa é que o caso não trata apenas de 17 espíritos escravizados reunidos por afinidade de sofrimento, mas sim de uma estrutura espiritual de aprisionamento coletivo, mantida ativa por séculos no mesmo ponto geográfico — uma capela construída exatamente sobre uma zona de eco energético de dor, culpa e devoção.
A maioria lê as lendas como variações folclóricas, mas elas são, na verdade, memórias fragmentadas de diferentes consciências que se sobrepuseram no mesmo campo mórfico. O povo enxergava ‘uma Josefa’, mas o campo astral mostrava ‘as JosefAs’, no plural: um arquétipo formado pelo trauma condensado de várias vidas arrancadas de forma semelhante. O próprio fenômeno de um túmulo que ‘sangra’, um…