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Conselho Espiritual de Medicina

Ser médico é o sonho de muita gente pois é uma carreira profissional de muito prestígio e com ótimos rendimentos. Desde a época da colonização sempre foi uma carreira das famílias de melhores condições financeiras, filhos de fazendeiros e industriais, e hoje ainda não é muito diferente disso, geralmente os médicos que não são de família rica em sua maioria são de classe média alta, embora alguns programas de governo de inclusão na área da educação tenham favorecido a entrada no curso de medicina de pessoas de classes sociais mais baixas.

No Brasil existem conselhos que fiscalizam o exercício das profissões e o o Conselho Federal de Medicina foi criado em 1951, no governo do presidente Juscelino Kubitschek, que era médico, mas processo que levou a criação desse conselho se iniciou em 1945 no governo do presidente Getúlio Vargas. Sempre existiu muito corporativismo nesses conselhos de profissões e geralmente só tomam uma providência mais séria em relação a atividade de um profissional denunciado quando algum caso vem a público e a sociedade exige uma punição.

Como os médicos trabalham com as doenças graves, pessoas fragilizadas, e em muitos casos sua atuação pode provocar a morte, é uma profissão na qual a falta de ética se faz mais flagrante. Recentemente tivemos um caso em que um médico anestesista estuprou várias mulheres anestesiadas. Há alguns anos houve um outro que um médico idoso foi condenado por 52 estupros e acabou sendo preso no Paraguai. Difícil de acreditar que nunca tivesse chegado ao conselho regional ou ao federal nenhuma denúncia contra esses profissionais antes de estourar o escândalo na mídia.

Sobre essa questão de ética, meu TCC na graduação de Filosofia foi sobre bioética, vou reproduzir dois recortes do meu artigo apenas para percebermos que a fiscalização na área médica, mesmo que precária, é bem recente. O código de ética médica aqui no Brasil só foi criado em 1965 :

Nas décadas de 1960-70 três casos médicos tiveram grande repercussão na mídia e causaram fortes debates entre a população. O primeiro ocorreu em 1953, no Hospital Israelita de Doenças Crônicas, em Nova York, onde injetaram células cancerosas vivas em idosos doentes. O segundo só veio a público em 1970, mas teve seu início na década de 1950, também em Nova York, no Hospital Estadual de Willowbrook, onde foi injetado o vírus da hepatite em crianças com deficiência mental. O terceiro caso foi o mais importante para o desenvolvimento da bioética e falaremos dele em detalhes mais adiante, trata-se do caso Tuskegee, onde durante 40 anos um grupo de negros portadores de sífilis foi deixado sem tratamento para se observar a evolução natural da doença.

Apesar dos acontecimentos relatados nos julgamentos de Nuremberg terem causado indignação na comunidade científica internacional, essa mesma comunidade não se comoveu com o fato de 399 negros do Alabama portadores de sífilis estarem sendo monitorados apenas para que se observasse a evolução natural da doença sem tratamento. O Projeto Tuskegee se iniciou em 1932 e se estendeu por quatro décadas, sendo encerrado somente em 1972, meses após a publicação de um artigo da jornalista Jean Heller, da Associated Press, no jornal New York Times em 26/7/1972. Em 1969 a imprensa norte-americana já havia noticiado que 28 pacientes com sífilis deste estudo haviam morrido, mas mesmo assim o estudo continuou. Durante os quarenta anos do estudo foram publicados treze relatórios oficiais na comunidade científica, com títulos como Twenty Years of Followup Experience in a Long-Range Medical Study, Untreated syphilis in the male Negro, A comparative study of treated and untreated cases e The Tuskegee study of untreated syphilis: the 30th year of observation .

Mas enfim, hoje temos um conselho federal e conselhos regionais que teoricamente fiscalizam o exercício da profissão e qual não foi a minha surpresa quando descobri que havia um Conselho Espiritual de Medicina aqui no Brasil. E o que será que esse conselho faz? Fiscaliza a atuação de médicos desencarnados como o Dr. Fritz ou médiuns como o João de Deus? Não, eles não estão nem aí para a população, o que eles fiscalizam é quem pode se tornar médico. Isso mesmo, nos deparamos com uma organização de milhares de espíritos, que em sua quase totalidade foram médicos em vida, preocupados em garantir que apenas filhos ou netos de médicos exerçam a profissão. Como se não bastasse as dificuldades materiais para uma pessoa que não tem boas condições financeiras estudar medicina, ainda eram obsediados por médicos falecidos que querem manter a profissão dentro de um grupo seleto de pessoas.

Atendemos um estudante de medicina da USP e descobrimos que lá havia 77 espíritos desse conselho perturbando os alunos que não tem tradição de médicos na família para que não consigam concluir o curso e se conseguirem que não sigam na profissão, porque querem manter os médicos numa espécie de casta superior, um negócio de pai para filho. Encontramos espíritos desse Conselho Espiritual de Medicina atuando em todas as Faculdades de Medicina do país, eram cerca de 2.500 apenas no estado de São Paulo e mais de 55.000 atuando em todas as escolas de medicina do Brasil. Todos foram obliviados, alguns talvez trabalhem no Mais Médicos no Umbral, os que tiverem um pouco de consciência, mas a maioria deve reencarnar numa família desprovida de boas condições financeiras, vão sonhar muito em ser médicos e provavelmente não vão conseguir.

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